terça-feira, 27 de agosto de 2013

Obra: O símbolo perdido.
Autor: Dan Brown.
Comentários: O livro trata de uma corrida contra o tempo, com a ajuda de Katherine, uma pesquisadora que acredita que misticismo e ciência moderna tem relações uma com a outra, juntos eles percorrem os principais pontos da cidade e suas galerias subterrâneas, decifrando símbolos maçônicos e encontram pistas disfarçadas à vista de todos na arquitetura de Washington. Este livro é divertido e eletrizante, como andar de montanha-russa. Impossível de largar o livro, ele e cheio de pistas, segredos, um mistério atrás do outro, tornando assim, o livro muito interessante. Pra quem gosta de  livros de ficção, é realmente esplêndido.

Biografia de Monteiro Lobato: o precursor da literatura infantil no Brasil

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Biografia, obras e estilo literário
Contista, ensaísta e tradutor, este grande nome da literatura brasileira nasceu na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, no ano de 1882. Formado em Direito, atuou como promotor público até se tornar fazendeiro, após receber herança deixada pelo avô.  Diante de um novo estilo de vida, Lobato passou a publicar seus primeiros contos em jornais e revistas, sendo que, posteriormente, reuniu uma série deles em Urupês, obra prima deste famoso escritor.
Em uma época em que os livros brasileiros eram editados em Paris ou Lisboa, Monteiro Lobato tornou-se também editor, passando a editar livros também no Brasil. Com isso, ele implantou uma série de renovações nos livros didáticos e infantis. 
Este notável escritor é bastante conhecido entre as crianças, pois se dedicou a um estilo de escrita com linguagem simples onde realidade e fantasia estão lado a lado. Pode-se dizer que ele foi o precursor da literatura infantil no Brasil. 
Suas personagens mais conhecidas são: Emília, uma boneca de pano com sentimento e idéias independentes; Pedrinho, personagem que o autor se identifica quando criança; Visconde de Sabugosa, a sabia espiga de milho que tem atitudes de adulto, Cuca, vilã que aterroriza a todos do sítio, Saci Pererê e outras personagens que fazem parte da inesquecível obra: O Sítio do Pica-Pau Amarelo, que até hoje encanta muitas crianças e adultos. 
Escreveu ainda outras incríveis obras infantis, como: A Menina do Nariz Arrebitado, O Saci, Fábulas do Marquês de Rabicó, Aventuras do Príncipe, Noivado de Narizinho, O Pó de Pirlimpimpim, Reinações de Narizinho, As Caçadas de Pedrinho, Emília no País da Gramática, Memórias da Emília, O Poço do Visconde, O Pica-Pau Amarelo e A Chave do Tamanho. 
Fora os livros infantis, este escritor brasileiro escreveu outras obras literárias, tais como: O Choque das Raças, Urupês, A Barca de Gleyre e o Escândalo do Petróleo. Neste último livro, demonstra todo seu nacionalismo, posicionando-se totalmente favorável a exploração do petróleo apenas por empresas brasileiras. 
No ano de 1948, o Brasil perdeu este grande talento que tanto contribuiu com o desenvolvimento de nossa literatura.
Frases de Monteiro Lobato
- "De escrever para marmanjos já estou enjoado. Bichos sem graça. Mas para crianças um livro é todo um mundo."
- "É errado pensar que é a ciência que mata uma religião. Só pode com ela outra religião."
- "O livro é uma mercadoria como qualquer outra; não há diferença entre o livro e um artigo de alimentação. (...) Se o livro não vende é porque ele não presta".
- "Tudo tem origem nos sonhos. Primeiro sonhamos, depois fazemos."

"Quando olho para ti vejo a tua beleza e graça, e sei que cresceram mais fortes com cada vida que viveste. E sei que gastei todas as vidas antes desta à tua procura. Não de alguém como tu, mas de ti, porque a tua alma e a minha têm que andar sempre juntas. E assim, por uma razão que nenhum de nós entende, fomos obrigados a dizer-nos adeus. Adoraria dizer-te que tudo correrá bem para nós, e prometo fazer tudo o que puder para garantir que assim será. Mas se nunca nos voltarmos a encontrar outra vez, e isto for verdadeiramente um adeus, sei que nos veremos ainda noutra vida. Iremos encontrar-nos de novo, e talvez as estrelas tenham mudado, e nós não apenas nos amemos nesse tempo, mas por todos os tempos que tivemos antes.
-Querido John"

Reforma Ortográfica.

Não é de hoje que os integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa  (CPLP) pensam em unificar as ortografias do nosso idioma. Desde o início do século XX, busca-se estabelecer um modelo de ortografia que possa ser usado como referência nas publicações oficiais e no ensino. No quadro a seguir tem-se, resumidamente, as principais tentativas de unificação ortográfica já ocorridas entre os países lusófonos. No Brasil, note que já houve duas reformas ortográficas: em 1943 e 1971. Assim, um brasileiro com mais de 65 anos está prestes a passar pela terceira reforma. Em Portugal, a última reforma aconteceu em 1945.
Cronologia das Reformas Ortográficas na Língua Portuguesa
Séc XVI até ao séc. XX - Em Portugal e no Brasil a escrita praticada era de caráter etimológico (procurava-se a raiz latina ou grega para escrever as palavras).
1907 - A Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escrita nas suas publicações.
1910 - Implantação da República em Portugal – foi nomeada uma Comissão para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme, para ser usada nas publicações oficiais e no ensino.
1911 - Primeira Reforma Ortográfica – tentativa de uniformizar e simplificar a escrita de algumas formas gráficas, mas que não foi extensiva ao Brasil.
1915 - A Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a ortografia com a portuguesa.
1919 - A Academia Brasileira de Letras revoga a sua resolução de 1915.
1924 - A Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começam a procurar uma grafia comum.
1929 - A Academia Brasileira de Letras lança um novo sistema gráfico.
1931 - Foi aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre o Brasil e Portugal, que visava suprimir as diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa, contudo não foi posto em prática.
1938 - Foram sanadas as dúvidas quanto à acentuação de palavras.
1943 - Foi redigido, na primeira Convenção ortográfica entre Brasil e Portugal, o Formulário Ortográfico de 1943.
1945 - O acordo ortográfico tornou-se lei em Portugal, mas no Brasil não foi ratificado pelo Governo. Os brasileiros continuaram a regular-se pela ortografia anterior, do Vocabulário de 1943.
1971 - Foram promulgadas alterações no Brasil, reduzindo as divergências ortográficas com Portugal.
1973 - Foram promulgadas alterações em Portugal, reduzindo as divergências ortográficas com o Brasil.
1975 - A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboram novo projeto de acordo, que não foi aprovado oficialmente.
1986 - O presidente brasileiro José Sarney promoveu um encontro dos sete países de língua portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe - no Rio de Janeiro. Foi apresentado o Memorando Sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
1990 - A Academia das Ciências de Lisboa convocou novo encontro juntando uma Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa – as duas academias elaboram a base do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O documento entraria em vigor (de acordo com o 3º artigo do mesmo) no dia 1º de Janeiro de 1994, após depositados todos os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo português.
1996 - O último acordo foi apenas ratificado por Portugal, Brasil e Cabo Verde.
2004 - Os ministros da Educação da CPLP reuniram-se em Fortaleza (Brasil), para propor a entrada em vigor do Acordo Ortográfico, mesmo sem a ratificação de todos os membros.
Nova Reforma Ortográfica -  Aspectos Positivos
O Novo Acordo Ortográfico, em vigor desde janeiro de 2009, gera polêmica entre gramáticos, escritores e professores de Língua Portuguesa. Segundo o Ministério de Educação, a medida deve facilitar o processo de intercâmbio cultural e científico entre os países que falam Português e ampliar a divulgação do idioma e da literatura portuguesa. Dentre os aspectos positivos apontados pela nova reforma ortográfica, destacam-se ainda:
- redução dos custos de produção e adaptação de livros;
- facilitação na aprendizagem da língua pelos estrangeiros;
- simplificação de algumas regras ortográficas.
Nova Reforma Ortográfica -  Aspectos Negativos
- Todos que já possuem interiorizadas as normas gramaticais, terão de aprender as novas regras;
- Surgimento de dúvidas;
- Adaptação de documentos e publicações.
Período de Adaptação
Mesmo entrando em vigor em janeiro de 2009, os falantes do idioma terão até dezembro de 2012 para se adaptarem à nova escrita. Nesse período, as duas normas ortográficas poderão ser usadas e aceitas como corretas nos exames escolares, vestibulares, concursos públicos e demais meios escritos. Em Portugal, cerca de 1,6% das palavras serão alteradas. No Brasil, apenas 0,5%.
Atualização dos Livros Didáticos
De acordo com o MEC, a partir de 2010 os alunos de 1º a 5º ano do Ensino Fundamental receberão os livros dentro da nova norma - o que deve ocorrer com as turmas de 6º a 9º ano e de Ensino Médio, respectivamente, em 2011 e 2012.
Reforma na Escrita
Por fim, é importante destacar que a proposta do acordo é meramente ortográfica. Assim, restringe-se à língua escrita, não afetando aspectos da língua falada. Além disso, a reforma não eliminará todas as diferenças ortográficas existentes entre o português brasileiro e o europeu.

Diferença da Linguagem culta ou formal e da Linguagem coloquial

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Linguagem culta ou formal -> caracterizada pela correção gramatical, ausência de termos regionais ou gírias, bem como pela riqueza de vocabulário e frases bem elaboradas. Salvo raras exceções, é a linguagem dos livros, jornais, revistas e, é claro, a linguagem que você deverá empregar em sua prova.
Linguagem coloquial -> é aquela que usamos no dia-a-dia, nas conversas informais com amigos, no bate-papo e no bilhete para a empregada ou para o filho que irá chegar, com as instruções para o jantar. Descontraída, dispensa formalidades e aceita gírias, diminutivos afetivos e termos regionais.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012


Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.
-Carlos Drummond de Andrade 

Dr.Carlos Chagas - biografia


A infância
          Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas ou, mais simplesmente, Carlos Chagas nasceu aos 9 de julho de 1878, na fazenda Bom Retiro, em Oliveira, Minas Gerais. Descendente de uma tradicional família mineira que produzia café e gado, criou-se ali, numa grande casa em estilo colonial, saboreando tutu, feijão-tropeiro e pão-de-milho; doce de leite e queijo fresco; goiabada... Oliveira era uma cidade pequena mas com uma forte tradição de cidadania; o ensino público era muito desenvolvido, havia uma pequena mas atuante imprensa, representada pela Gazeta de Minas. A família de Carlos Chagas tinha marcante presença na vida cultural da cidade. Carlos, que cedo perdeu o pai, respeitava muito seus tios, mas foi sobretudo sua mãe, Mariana Cândida, mulher digna e com muita consciência do dever público, quem o influenciou. Mesmo adulto, Chagas não ousava nem sequer fumar em sua presença – seria falta de respeito.
          Iniciou seus estudos num internato jesuíta no município paulista de Itu, e completou-os em São João del Rey, no Colégio São Francisco, onde teve um excelente professor. Padre Sacramento ia para o campo junto com os alunos observar e classificar plantas e animais – atividade que logo despertou no garoto Carlos o interesse pelas ciências naturais. Terminado o colégio, a mãe, com sua peculiar determinação, decidiu que ele deveria seguir o curso de engenheiro de minas. Na verdade, Carlos Chagas queria ser médico, como dois de seus tios; mas, para satisfazer Mariana Cândida, cedeu na escolha. Foi reprovado nos exames vestibulares. Na mesma época, adoeceu – alimentando-se mal, teve, ao que parece, carência de vitaminas – e voltou para casa. Tratou-o um dos tios médicos, e decerto as longas conversas que tiveram reforçaram em Carlos a vontade de seguir medicina. O tio e o avô encarregaram-se de convencer a mãe. Mariana levava mais fé na engenharia – coisa objetiva, "concreta" – do que em cuidar de doentes, mas acabou concordando.
          Carlos Chagas foi aprovado para a então Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que começou a cursar em 1897. Não conhecia o Rio, mas vários amigos, mineiros como ele, viviam na cidade. Um primo, Augusto das Chagas, era inclusive deputado federal.
          Foi morar em uma pensão para estudantes na Tijuca, bairro aristocrático, muito bonito e arborizado. Descobriu logo, porém, que no Rio de Janeiro daquela época a Tijuca era uma exceção: no Catumbi, no Rio Comprido, na Lapa, as casas eram miseráveis, as condições de higiene, péssimas – as doenças ali campeavam. Mas, embora fosse uma época de grande agitação política, Carlos Chagas não se engajou em nenhum partido, tampouco aderiu, como era moda entre os jovens de sua idade, ao pacitivismo que, como vímos na história de Oswaldo Cruz, transformou-se no, Brasil, em uma forma de articulação política. Que a Carlos Chagas não interessava. Pretendia dedicar-se apenas à medicina.
Na Faculdade
          O estudo da medicina era uma coisa solene. Os alunos iam às aulas de terno, colete, colarinho duro e gravata – o que, no tórrido clima do Rio, era um suplício. Os professores vestiam com mais apuro ainda: sobrecasaca ou fraque cinza, chapéu coco. Ou seja: imitavam os europeus, coisa que Oswaldo Cruz também fez ao votar de Paris. Chegavam à faculdade em elegantes caleches (carruagem de quatro rodas e dois assentos, puxada por uma parelha de cavalos), entravam no auditório – onde já estavam os alunos – por uma porta especial. As aulas eram verdadeiras conferências proferidas em tom doutoral. Muitos dos catedráticos eram famosos: Chapôt-Prevost , professor de Histologia (a ciência que estuda os tecidos) e conhecido cirurgião, celebrizou-se com a dificílima operação em que separou gemêas xipófogas, unidas pelo esterno (o osso no centro do peito). Também famoso era Miguel Couto (1865-1934), grande clínico e também mais tarde político, de quem Chagas se tornou discípulo; Couto mostrava-lhes casos de doentes e orientava-o nas leituras médicas. Um conselho foi particularmente útil: as recomendações para conhecer as obras de Claude Bernard e Louis Pasteur. Esses dois cientistas franceses marcaram a história da medicina.
          A propósito, Chagas era um grande leitor. Devorava as obras de José de Alencar, Bernardo Guimarães, Artur de Azevedo, Machado de Assis, e também de Alexandre de Herculano, Eça de Queiroz, Anatole France. Lia inclusive em francês, que dominava, e que era, o idioma da cultura universal, o equivalente ao inglês nos dias de hoje. E este vasto conhecimento, sem dúvida, ajudou muito em sua carreira. Um bom cientista é aquele que não apenas conhece o campo em que trabalha, a sua especialidade, mas tem também uma visão abrangente do mundo e da sociedade, coisa que bons escritores, como Machado de Assis, proporcionam.
          Além de Miguel Couto, um outro médico influenciou o jovem Carlos Chagas: Francisco Fajardo, especialista em malária, professor da Faculdade. Fajardo tomou a iniciativa de dar um curso sobre a doença; para isso, precisava de um auxiliar, alguém que soubesse preparar uma lâmina com sangue de pacientes, identificando, ao microscópio, o agente causador da malária. Descobriu, para a sua surpresa, que Carlos Chagas, entao no quarto ano de Medicina, cumpria perfeitamente tais tarefas. Aliás, Carlos era um estudante exemplar; não apenas no laboratório se saía bem, seguia com maestria também nas disciplinas clínicas. Trabalhou com dedicação assombrosa nas enfermarias da Santa Cruz. Fazia contínuos plantões, chegando, certa vez, a passar uma semana sem ir para a casa; acompanhava um colega enfermo de febre amarela, seu parente, que veio a morrer da doença. Entre os colegas, era conhecido como "estudante de duas velas". Naquela ocasião, estudava-se à luz de velas – duas, no caso de Carlos Chagas, o que significava um longo tempo de estudo. Só saía para passeios ao zoológico.
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Carlos Chagas "o duas velas". Desenho de Sérgio Kon.
          Contudo, foi uma festa que lhe mudou a vida. A convite de Miguel Couto, participou numa reunião em casa do senador (por Minas Gerais, naturalmente), Fernando Lobo. Ali conheceu Íris, a filha mais velha do anfitrião, por quem se apaixonou. Numa época muito recatada como aquela, namorar não era fácil. Mas Carlos foi ajudado por Fajardo, que lhe trouxe um bilhete da moça: ela queria vê-lo, no domingo, no bonde que passava as quatro da tarde em frente a casa do senador. E foi o que Carlos fez: tomou o bonde para que Íris o visse, mesmo de longe. Esse namoro a distância durou algum tempo, muito prejudicado pela irregularidade do horário dos veículos, que eram puxados por inconfiáveis muares ou se atrasavam por causa das chuvas. A mãe de Íris também não se mostrava muito favorável ao romance. Carlos Chagas era ainda estudante, sem meios de ganhar a vida. Além disso, a racista Maria Lobo suspeitava de que ele, apesar de loiro e de olhos azuis, tivesse sangue negro. Íris, contrariada em seu amor, trancou-se no quarto, onde fez greve de fome. Os pais por fim consentiram no namoro, que por fim se transformaria, em 1904, em casamento.
          Em 1902, prestes a terminar o curso, Carlos Chagas encontrou um médico que encaminharia sua carreira. Naquela época, para receber o diploma, era necessário elaborar uma tese de doutoramento – uma exigência depois abolida, sobretudo pela má qualidade dos trabalhos apresentados. A conselho de Francisco Fajardo, procurou Oswaldo Cruz no Instituto de Manguinhos, por ele dirigido. Impressionado com o conhecimento e com a seriedade do jovem doutorando, Oswaldo sugeriu-lhe que estudasse a malária que era então, como ainda hoje, uma doença muito frequente e que causava numerosas mortes. Carlos Chagas começou a frequentar o Instituto. Hoje, o trajeto do centro do Rio até a sede do Instituto pode ser feito de ônibus ou carro, em pouco tempo. Naquela época, porém, o "único meio de transporte era uma lancha que saía do cais Pharoux (o Cais Pharoux ficava aproximadamente onde hoje são as adjacências da região da Praça XV; nas proximidades de onde está o Museu Histórico Nacional) às sete da manhã, regressando às dezoito horas. E Oswaldo Cruz fazia questão que o horário fosse cumprido rigorosamente.
Começando a carreira
          A tese foi defendida em 1903, e logo depois Oswaldo Cruz convidou-o para trabalhar no Instituto. Carlos, entretanto, achava que sua verdadeira vocação era cuidar de doentes; assim, pediu tranferência para o Hospital de Jurujuba, também do governo, onde internavam-se doentes portadores de peste bubônica – à época, uma doença muito comum. A o mesmo tempo, abriu consultório no centro do Rio. Recebia doentes que lhe eram enviados por Miguel Couto e por Salles Guerra, amigo de Oswaldo Cruz. Era um bom médico, mas não sabia cobrar; ao contrário, às vezes dava dinheiro aos pacientes para que comprassem os remédios por ele prescritos. Em consequência, a clínica não lhe cobria as despesas, mesmo porqque àquela altura já estava casado e tinha um filho.
          Foi então que ocorreu uma nova, e decisiva, virada em sua vida. A Companhia Docas de Santos estava realizando, em Itatinga, no litoral paulista, uma importante obra portuária – que se viu paralisada devido a malária que grassava entre os operários. Solicitaram a Oswaldo Cruz que indicasse um médico capaz de enfrentar a situação. Carlos Chagas – por causa, evidentemente, de sua tese sobre malária – era a pessoa talhada para isso. Àquela altura, já se conhecia bem o mecanismo de transmissão, e o plano de Carlos Chagas consistia basicamente em combater o mosquito transmissor da doença, o que foi feito com grande êxito: em três meses a epidemia estava praticamente controlada.
          Voltando ao Rio, Chagas foi convidado para trabalhar na equipe de Manguinhos, capitaneada por Oswaldo Cruz. Com notáveis cientistas – Rocha Lima, Arthur Neiva, Beaurepaire Aragão, Ezequiel Dias – e com a regular participação de pesquisadores europeus especialmente convidados, Manguinhos era a própria imagem da medicina científica no Brasil. Chagas colaborou especialmente com Max Hartmann, renomado especialista em protozoários, categoria na qual se enquadra o plasmódio, agente causador da malária. Também continuou com seu trabalho de campo, participando do combate à malária no vale de Xerém, de onde era captada a água para abastecimento do Rio de Janeiro.
A grande descoberta
          Em 1909, Chagas foi convidado para um trabalho que, em aparência semelhante aos que já havia executado, seria, na verdade, uma nova e grande oportunidade em sua vida dedicada à ciência.
          A Estrada de Ferro Central do Brasil participava de um grande projeto: unir, por ferrovia, o norte e o sudeste do Brasil, de Belém do Pará ao Rio de Janeiro. As obras, contudo, estavam paralisadas – por causa da habitual malária – na altura do vilarejo chamado Lassance, no sertão mineiro. De novo Oswaldo Cruz foi consultado; de novo indicou Carlos Chagas, que partiu para o local acompanhado de Belisário Penna, levando inclusive equipamento laboratorial.
          Em Lassance, Chagas encontrou numerosos casos de uma doença que nada tinha a ver com a malária. Muitas pessoas queixavam-se daquilo que chamavam de "baticum":palpitações, sensação de que o coração não batia normalmente. E não era imaginação. Havia mesmo muitos casos de insuficiência cardíaca, isto é, situações em que o coração falhava. E havia também casos de morte súbita, provavelmente pela mesma causa.
          Naquela época o diagnóstico que se fazia para casos assim era o de sífilis. Esta doença é causada por um germe chamado treponema, que se transmite pelo contato sexual. Nos estágios avançados, a doença ataca o aparelho cardio-vascular. Era muito freqüente, principalmente porque não havia tratamento - a penicilina, que é muito eficaz contra o treponema, ainda não fora descoberta. O número de casos era muito grande; "no Brasil é preciso pensar sifiliticamente", diziam os médicos. Em Lassance havia uma fonte evidente de contágio: as prostitutas que acorriam ao lugar para "atender" aos trabalhadores da estrada de ferro. Já a gente do lugarejo, desnutrida, enfraquecida pela malária, não parecia muito chegada ao sexo. E, entre essas pessoas, o número de doentes era muito grande.
          Esse fato chamou a atenção de Chagas e mostrou sua vocação – o verdadeiro cientista é aquele que não se deixa enganar pelas aparências, vai além e procura explorar todos os aspectos do fenômeno que está observando, inclusive, e principalmente, os mais intrigantes. Isso lembra, aliás, um famoso diálogo entre Sherlock Holmes e seu companheiro, doutor Watson. Sherlock Holmes é um personagem criado pelo inglês Arthur Conan Doyle, que além de escritor era médico, e exerceu a medicina numa época em que se valorizava bastante o raciocínio na prática clínica. O doutor muitas vezes agia como um verdadeiro detetive, buscando o vilão causador da doença. No referido diálogo, Holmes está conversando com Watson acerca de um crime e refere-se ao "curioso incidente" ocorrido à noite com o cão de guarda da casa que fora cenário do delito. "Mas o cão não fez nada", protesta Watson. "Isto é que é curioso", replica Holmes. De fato, o cão deveria ter latido à aproximação de alguém estranho. Por que não o fez?
          Essa mesma curiosidade assaltou Chagas. O senso comum apontava para a sífilis; mas, e se não fosse sífilis? Se fosse uma outra enfermidade? Uma outra doença? O que estaria causando? Como seria transmitida?
          Chagas estava às voltas com essa dúvidas, quando um engenheiro da estrada de ferro, Cantarino Motta, fez um comentário sobre a enorme quantidade de "barbeiros" no local. Barbeiro é a denominação para insetos semelhantes a percevejos; são bichos noturnos: de dia escondem-se nas frinchas e frestas das casas de taipa ou pau-a pique, à noite saem para picar os moradores, de cujo sangue se alimentam. Como as pessoas em geral estão cobertas, eles escolhem a face – daí o nome.
          Examinando ao microscópio o conteúdo do tubo digestivo desses insetos, Chagas fez uma grande descoberta: havia ali tripanossomos, um parasita composto de uma célula só. Na África, um certo tipo desse parasita causa a doença do sono, assim chamada pela sonolência decorrente do comprometimento do sistema nervoso central. Naquela época, essa moléstia estava em evidência; muitas regiões atingidas eram colônias de países europeus, que para lá mandavam seus pesquisadores.
          Ora, a doença de Lassance poderia ser causada por um tripanossomo. Chagas decidiu verificar experimentalmente, em macacos, a possível capacidade de esse parasita infectar mamíferos. Mas os sagüis da região, freqüentemente infectados, não serviam para isso. Enviou, então, a Oswaldo Cruz alguns barbeiros, pedindo que tentasse infectar os macacos do laboratório – o que Oswaldo fez. Vários dias se passaram, dias de espera ansiosa. E então chegou a mensagem de Manguinhos: um dos macacos adoecera. Chagas deveria ir a Manguinhos identificar o tripanossomo. Partiu imediatamente.
          "Quantas esperanças e quantas angústias lhe terão assaltado o espírito na longa viagem que empreendeu?", pergunta Carlos Chagas Filho no livro que escreveu sobre o pai. E era, de fato, uma longa viagem, com muitas baldeações e atrasos. Finalmente chegou. Oswaldo Cruz, tão ansioso como Chagas, mandara um automóvel buscá-lo na estação ferroviária, de onde imediatamente seguiu para o Instituto. Ali estava o macaco infectado, bastante debilitado. O cientista colheu o sangue e examinou ao micrscópio: encontrou o mesmo tripanossomo a que verificara nos barbeiros e nos macacos de Lassance, posteriormente denominado Tripanossomo cruzi, em homenagem a Oswaldo.
          A infecção de mamíferos pelo T. cruzi estava comprovada. E quanto à infecção de seres humanos?
          No dia 14 de fevereiro de 1909, foi trazida ao caramanchão onde Chagas às vezes atendia pacientes – consultório ali não havia – uma menina de nove meses, Berenice, que ele já conhecia e por quem nutria sincera afeição. A menina apresentava febre alta e inchume no rosto e no corpo. O caso não era parecido aos de outros doentes de Lassance; mesmo assim Chagas resolveu colher o sangue da doentinha. Examinou-o ao microscópio e ali estava o Tripanossomo cruzi. Era o primeiro caso em que comprovava a associação do parasito com a doença – e com isso Chagas completava um trabalho extraordinário, jamais realizado na medicina: ele descobrira uma nova doença, identificara o agente causador e o mecanismo de transmissão.
A repercussão
          O passo seguinte era divulgar a descoberta, o que Chagas fez em revistas nacionais e estrangeiras. A Academia Nacional de Medicina constituiu uma comissão de renomados médicos para ir a Lassance avaliar de perto o trabalho. Concluída a auditoria, reuniram-se num modesto jantar, à luz de lampiões, e foi ali que Miguel Couto propôs: a doença deveria receber o nome de Chagas, seu descobridor. Uma proposta que foi aceita por todos os membros da comissão.
          Sem demora a doença começou a ser identificada em outros países das Américas. Sucederam-se as homenagens, que culminaram, em 1912, com o Prêmio Schaudinn, uma espécie de Nobel da microbiologia, de cujo júri participaram os nomes mais famosos da área.
          Outro talvez ficasse curtindo a glória. Não Chagas. Ele era um cientista, a ciência era a razão de ser de sua vida. Naquele mesmo ano seguiu para a Amazônia acompanhado de uma equipe, a fim de realizar um levantamento dos problemas de saúde da região – trabalho iniciado pelo próprio Oswaldo Cruz. Um ano durou essa difícil missão, realizada em condições as mais precárias; muitas vezes dormia ao relento, em redes ou em camas improvisadas.
          Voltando ao Rio, foi convidado a ir à Argentina, onde sua descoberta era colocada em dúvida por ninguém menos que Rudolph Kraus, diretor do Instituto de Bacteriologia de Buenos Aires. Kraus alegava ter encontrado em regiões da Argentina barbeiros com tripanossomos – sem a paralela ocorrência de casos. Chagas ponderou que o parasito talvez ainda não tivesse se adaptado aos seres humanos, ou – hipótese mais provável – que os médicos não estivessem familiarizados com o diagnóstico da doença.
          Durante esta visita à Argentina ocorreu um incidente pitoresco. Chagas foi visitar o laboratório de Kraus e saiu de lá com um enorme sobretudo, que lhe chegava aos pés: era o sobretudo do próprio Kraus, que levara por engano. Chagas era o protótipo do cientista distraído, desses que até se transformam em personagens de anedotas. Uma vez, em sua própria casa, a empregada serviu-lhe um café. Ele tirou dinheiro do bolso e depositou-o na bandeja, "pagando" pelo café. Numa outra vez, recebeu a visita de um jovem médico que vinha, com a esposa, agradecer-lhe um favor e demorou mais que o habitual nessas visitas. Lá pelas tantas, Chagas, esquecendo que estava em sua própria casa, olhou as horas e disse à mulher: "Íris, está na hora de voltar para a casa". Mas sua distraçao chegou ao auge quando, numa cerimônia internacional em Bruxelas, recebeu do rei Alberto, da Bélgica, uma importante condecoração – esqueceu-a na mesa do banquete. Um ajudante-de-ordens do rei levou-a depois para o hotel.
          Neste episódios ele poderia estar sendo vítima de seu próprio inconsciente, como diz Freud. Afinas, raras coisas são piores do que uma visita chata – e talvez ele não valorizasse tanto assim a condecoração real (ou não valorizasse como devia o próprio trabalho).
Chagas, o administrador de saúde
          Voltando da Argentina, recebeu uma triste notícia: Oswaldo Cruz, que há tempos estava doente, piorara muito e falecera a 11 de fevereiro de 1917. Para Chagas, quemal conhecera o seu próprio pai, Oswaldo Cruz havia sido, mais que um mestre, uma verdadeira figura paterna. Ficou muito abalado. Mas, sendo o sucessor natural do grande sanitarista, naquele mesmo fevereiro foi nomeado para a direção do Instituto. Isso o obrigou a se afastar da pesquisa laboratorial; daí em diante seria, antes de mais nada, um administrador. E um administrador muito solicitado pelo governo.
          Já no ano seguinte eclodiu no país uma epidemia da tristemente famosa gripe espanhola (não se sabe bem por que assim foi denominada; parece que começou na Espanha, mas isso não é certo). Da Europa devastada pela Primeira Guerra, a doença alastrou-se pelo mundo, levada inclusive pelas tripulações de navios. No Rio de Janeiro, a doença fez logo numerosas vítimas. Numa tese do ano posterior, conta o doutorando Eduardo Imbassahy: "A população quase inteira tombou ao sopro terrível e fulminante que nos vinha das plagas ocidentais e, de um momento para outro, uma das mais alegres cidades do mundo surgiu silenciosa, erma e triste, com as ruas abandonadas, as casas fechadas, o comércio parado, os veículos imóveis". Não havia sequer condições para enterrar o grande número de mortos; presos da penitenciária faziam o serviço. Faltavam caixões, de modo que os corpos eram atirados em valas comuns, ou recolhidos por caminhões particulares que passavam pelas ruas, os motoristas gritando" "Tem cadáver aí?".
          Não havia vacina contra a doença, nem antibióticos para tratar suas complicações. Tudo o que podia ser feito era providenciar locais de atendimento e leitos hospitalares para os enfermos, tarefa da qual Chagas, designado pelo Presidente da República, Venceslau Brás, se encarregou. Era um trabalho essencialmente administrativo, mas muito difícil: Chagas, ele próprio doente, tinha também de cuidar de sua família, a esposa, gravemente enferma, e os dois filhos. Mas ele se saiu tão bem, que foi convidado por líderes políticos a candidatar-se ao senado. Recusou.
          Ainda nessa época, encarregou-se de organizar, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, a cadeira de Medicina Tropical. "Medicina Tropical" é uma expressão que já não se usa mais (em Manaus existe o Hospital de Medicina Tropical), mas no século XIX e princípios do século XX gozava de prestígio, por uma razão mais política do que geográfica: "trópicos eram os lugares onde se desenvolviam arrojados empreendimentos colonialistas ou empresariais – mineração, exploração de produtos vegetais, construção de ferrovias e de grandes obras, como o Canal do Panamá. Doenças chamadas "tropicais", como febre amarela, malária, doença do sono, leishmaniose e outras, representavam um problema, tanto pelas vidas humanas que ceifavam, como pelos prejuízos econômicos que produziam. Com o fim dos impérios coloniais e com a constatação de que os micróbios não tinham preferência só pelos subdesenvolvidos, surgiu a expressão, cientificamente mais exata, doenças transmissíveis.
A glória – e a polêmica.
          O prestígio de Chagas era enorme. Viajava pelo mundo todo, participando de congressos e reuniões científicas. Recebeu comendas e títulos, conferidos por vários governos, e foi convidado para o Comitê de Higiene (outro termo em desuso) da Sociedade das Nações, precursora da Organização das Nações Unidas, ONU, que tem como um de seus ramos a Organização Mundial da Saúde. Nessas viagens, ficou conhecendo expoentes da medicina mundial. Foi em Toronto que encontrou os médicos e fisiologistas canadenses Frederick Banting (1891-1941) e Charles Best (1899-1978) que, alguns meses antes de sua visita, haviam descoberto a insulina – uma revolução no tratamento do diabete. Coincidência: pouco depois, a própria esposa de Chagas revelou-se diabética e tratou-se, com sucesso, com a insulina de Banting e Best.
          Apesar desse prestígio, ou justamente por causa dele, Carlos Chagas se viu envolvido em polêmicas e incidentes desagradáveis. A primeira delas ocorreu na Academia Nacional de Medicina em 1922. Alguns membros da instituição – que congregava médicos famosos, mas tinha escasso papel no cenário científico – colocaram em dúvida o trabalho de Chagas. A doença por ele descrita não existiria, ou então seria um problema de saúde restrito à região de Lassance, atingindo no máximo algumas dezenas de pessoas. Essa polêmica estava associada, na verdade, a uma briga de poder e prestígio, mas Chagas saiu vitorioso, mesmo porque o tempo encarregou-se de mostrar que ele tinha razão.
          Outro incidente ocorreu quando voltava de uma viagem à Europa, em 1930. Mal o navio atracara, um oficial subiu a bordo e deu-lhe voz de prisão. Naquele ano ocorrera a famosa Revolução que conduziu Getúlio Vargas ao poder. Mineiro, Chagas dera apoio à Aliança Liberal, formada por políticos de seu estado e de São Paulo, que se haviam oposto ao movimento. Entretanto, o motivo de sua prisão (que durou poucas horas) não foi exatamente esse, mas a denúncia de um médico, um urologista que tinha como sócio um charlatão capaz, segundo afirmava, de curar a lepra, doença para a qual não havia tratamento eficaz naquele tempo. Chagas, na qualidade de Diretor de Saúde Pública, cargo também exercido por Oswaldo Cruz, mandar fechar o consultório do homem – que aproveitou a primeira oportunidade para se vingar.
          Chagas era criticado por vários motivos. Por exemplo, pelos três cargos que detinha. Austragésilo de Athayde, mais tarde presidente da Academia Brasileira de Letras e, à época, jovem jornalista, escreveu: "O dr. Chagas quer figurar em todas as folhas de pagamento do Tesouro Nacional: Diretor do Instituto de Manguinhos, Diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública, professor de Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina." O que não deixava de ser verdade, embora Chagas não recebesse como diretor do Instituto. Além disso, até há pouco tempo era comum que médicos trabalhassem em vários lugares mesmo no serviço público: a Constituição permitia.
          Da era Oswaldo Cruz, Chagas também herdou polêmicas. Uma: a vacinação anti-variólica obrigatória que ele, como seu mestre, defendia. A varíola era uma doença epidêmica da qual o mundo veio a se livrar no final da década de 1960 graças, exatamente, às campanhas de vacinação; naquele tempo, porém, ainda havia discussões a respeito. Dois tipos de argumento eram usados. Na Alemanha, onde a vacinação era obrigatória, dizia-se que a varíola tinha causado 140 mil mortos, uma meia verdade: a vacina era obrigatória, sim, mas só para militares, e os mortos eram civis. Quando a vacinação estendeu-se a toda população, a doença praticamente desapareceu. O outro argumento, já mencionado, era de ordem filosófica e política: a obrigatoriedade violentava a liberdade individual. Mas, observava Chagas, "os que aconselham o povo a rebelar-se contra a vacinação compulsória vacinam-se e fazem com que seus filhos sejam vacinados". Ou seja: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. De qualquer maneira, havia um certo ranço autoritário nessas medidas obrigatórias, e esta foi a causa da disputa em torno do Código Sanitário que Chagas, na linha de Oswaldo, estava propondo.
          É preciso dizar que, nesse meio tempo, a Diretoria Nacional de Saúde Pública se tinha transformado, em 1920, por decreto do presidente Epitácio Pessoa, em Departamento Nacional de Saúde Pública, o que representava mais autonomia e mais recursos. Na direção do Departamento, Chagas tomou dois tipos de medidas. Uma de caráter interno, criando Diretorias que deveriam se encarregar dos vários problemas de saúde pública: fiscalização dos alimentos, tuberculose, lepra, doenças venéreas. Eram atividades verticais; do Rio de Janeiro, o orgão encarregado controlava as ações executadas em todo o país. A vantagem disso era a ação unificada; a desvantagem, o fato de marginalizar estados e municípios, que se viam no papel de meros executores.
          A outra medida foi o Código Sanitário. Com 1194 artigos, o Código regulamentava – do ângulo da saúde pública – praticamente todas as atividades do ser humano. Dizia como as pessoas devem morar, como devem lavar a roupa, como devem construir as casas. De novo: do ponto de vista técnico e científico, o código tinha fundamento, mas a maneira como foi implementado acabou gerando protestos, inclusive e principalmente da imprensa, que o atacava quase com a mesma veemência despejada contra Oswaldo Cruz. Um dos artigos, por exemplo, proibia estábulos em áreas residenciais. Dizia-se que Chagas estava agindo em causa própria: queria eliminar um estábulo que existia perto de sua própria casa, na Rua Paissandu. Proprietários de estábulos, indignados, quase invadiram a residência dele.
          Problemas ainda maiores surgiram no final de sua gestão, em 1926. O primeiro deles foi um surto de febre amarela, resultado, segundo os opositores de Chagas, de um desleixo no combate à doença que, contudo, não havia sido erradicada. A erradicação de uma doença significa a não existência de casos. É diferente de controle da doença, situação na qual os casos existem, mas a saúde pública tem conhecimento deles e pode impedir a disseminação da doença. A febre amarela chegou, em alguns momentos, a estar próxima do controle, mas nunca foi erradicada. Portanto, poderia voltar – como aconteceu, e como tem acontecido recentemente.
          O segundo problema foi igualmente grave: um surto de varíola eclodiu quando Chagas estava em viagem. Regressando, ele investigou o problema e descobriu, para sua desagradável surpresa, que a vacina não funcionava por deficiências técnicas em sua preparação. Não hesitou: foi à imprensa e contou o que estava acontecendo. Mais uma prova de seu inabalável caráter.
          Morreu relativamente cedo, aos 54 anos, já transformado em uma figura lendária da Medicina e da Ciência no Brasil.

    






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